terça-feira, 19 de abril de 2011

Lilith

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Lilith, é uma variação hebraica (e não judaica) da deusa sumeriana Lil - que significa "tempestade" -, muitas vezes reconhecida como a outra face de Inanna. Seu nome também parece estar relacionado à "coruja", provavelmente pelos seus hábitos: uma sinistra ave de rapina que se precipita, silenciosa, na escuridão, e que, não obstante, também simboliza a sabedoria. Por outro lado, o mito hebreu fala de como Lilith foi moldada de terra e esterco, provavelmente querendo refletir o potencial da terra adubada - o que a relaciona, também, com a SEXUALIDADE e FERTILIDADE.

A história que podemos lembrar de Lilith começa com Innana, a neta da deusa Ninlil, conhecida como "Rainha dos Céus". A história de Innana e Enki nos fala dos costumes sexuais sagrados, que são a dádiva de Innana para a humanidade.

Em seus templos se praticava a prostituição sagrada e suas sacerdotisas eram conhecidas como Nu-gig. Os homens da comunidade buscavam a Deusa nessas sacerdotisas e o ato sexual era sagrado, proporcionando a CURA FÍSICA E ESPIRITUAL. Nessa época,o nome de Lilith era o da Donzela, "mão de Innana", que pegava os homens nas ruas e os trazia ao templo de Erech para os ritos sagrados.

Entre 3000 e 2500 a.c., os sumerianos passaram a ter contatos com culturas patriarcais. Estas, para poderem dominar aquele povo, sabiam que deveriam atacar seu maior centro de poder: o templo do sexo sagrado. Para que a conquista dos sumérios pudesse ter lugar, as culturas patriarcais interessadas começaram a disseminar as idéias de repressão sexual, combatendo como malignas as práticas sexuais milenares dedicadas à Deusa. As práticas sexuais se tornaram então parte da sombra, o poder da mulher foi identificado com o mal e o demoníaco...

Daí, através dos séculos, a Donzela Lilith, que buscava os homens para o Templo de Innana, se tornou no patriarcado o símbolo do mal supremo. Ela encarna de todas as formas e por milênios o medo atávico do homem do poder sexual da mulher.

Mais ou menos em 2400 a.c. Lilith, o Espírito do Ar, foi distorcida como a primeira mulher de Adão, como encontramos em muitos mitos, como um demônio, que foi expulsa do Jardim do Éden. Lillith não é, originalmente, da mitologia cristã ou judaica (e muito menos bíblica - e por isso nem é mencionada nela).

Os hebreus não eram monoteístas como os judeus. Até pelo contrário: eram politeístas. E pautavam sua vida pessoal e comunitária pelos ciclos sazonais - o que os torna também pagãos. Só após a invasão e destruição de Israel pelas forças babilônicas, no século VI a.C., é que começa a surgir o Judaísmo, mais ou menos como hoje o conhecemos - monoteístas e patriarcais.

Os primeiros capítulos da Bíblia (Gênesis 1 a 3) não são os escritos mais antigos desse livro. Sua articulação final data mais ou menos do fim do Exílio na Babilônia e, portanto, traz uma profunda rejeição a tudo que fosse ligado ao "inimigo". A Árvore da Vida, a Serpente e até a própria figura da Mulher são tratadas com menosprezo exatamente para estabelecer uma distinção.

No entanto, é interessante lembrar que o significado do nome "Eva" é "MÃE DE TODOS", e Adão significa "FILHO DA TERRA" - e isso já é suficiente para estabelecer sua antigüidade em relação à própria Bíblia. Certamente trata-se de um mito passado de geração em geração, via oral (como de hábito naqueles povos), que falava de uma GRANDE MÃE e de seu Filho.

Os autores bíblicos inverteram a situação, transformando Adão praticamente num "Grande Pai" e Eva em sua "filha", posto que ela surge a partir dele - evidentemente, para tornar legítima a postura patriarcal que estavam adotando. Da mesma forma, a Árvore e a Serpente - que sempre foram símbolos da Grande Deusa no Oriente - torna-se, na Bíblia, representações do Mal - e é ai que o mito de Lilith pode ser melhor compreendido.

Obviamente, uma transição desse porte não aconteceu sem brigas, discussões e resistência por parte das mulheres. Submetê-las ao patriarcado deve ter sido um trabalho difícil e que demorou várias gerações. As mais resistentes muito provavelmente viram no mito de Lilith toda a sua força ideológica - o que também deve ter causado a reação contrária de transformá-la em um Demônio e mãe de todos os demônios.

Lilith transparece, no mito hebreu, como a mulher livre, sensual, sexual e até certo ponto selvagem. Aquela que não se submete a nenhum homem, mas SEGUE SEUS INSTINTOS E DESEJOS. Por isso ela é representada sobre leões - símbolo da força masculina. No fundo, é a mulher que todo homem deseja mas que também teme, e por isso mesmo, parece um "demônio tentador".

Lilith, na tradição matriarcal, é uma imagem de TUDO O QUE HÁ DE MELHOR NA SEXUALIDADE FEMININA - A NATUREZA DA MULHER, O PODER DO SANGUE MENSTRUAL, que é o poder da Lua Escura. O período normalmente dedicado a Lilith, naquela época, era exatamente o período menstrual. O momento em que as mulheres poderiam ter relações sexuais livres da possibilidade de gravidez e, por isso, tais relações estariam exclusivamente ligadas ao prazer (e não à procriação, como era a perspectiva patriarcal). Assim, muitas vezes, se referiu a essa Deusa como o "Espírito Menstrual".

A reação judaica foi muito rápida e fulminante: transformou em pecado e tabu o sexo no período menstrual - uma artimanha para solapar o culto a Lilith. A segunda foi criar "regras" para a relação sexual - particularmente, regras que garantiam o prazer masculino, mas negava e proibia o prazer feminino. Nesse quadro, Lilith figurava para as mulheres como a experiência sexual capaz de integrar mente e corpo (pois estava livre da gravidez), abrindo um caminho para os tesouros misteriosos do submundo feminino. É encarada como a mulher positiva e rebelde, a que não aceita os padrões patriarcais que marcam a menstruação com dores e vergonha.

Conhecer a figura de Lilith é lembrar de um tempo no passado antigo da humanidade em que as mulheres eram honradas pela INICIAÇÃO SEXUAL, onde expressavam sua LIBERDADE E PAIXÃO NATURAL.

Hoje, depois desses séculos todos de um patriarcalismo opressor, Lilith volta como uma DEUSA NEGRA, ou seja, a energia feminina trancafiada nos calabouços da psiquê de toda a humanidade: para os homens, ela é um desafio; para as mulheres, um arquétipo.

O que significa reivindicar os poderes de Lilith para a mulher de hoje? Na literatura mítica antiga havia 3 Liliths - que refletiam as fases de lua crescente, cheia e escura:
 
A Lilith crescente era Naamah, a Donzela Sedutora

Donzela é a mulher indômita, selvagem, livre, vibrante de energia, imprevisível como o vento. Sua resposta à vida é espontânea, vívida. Totalmente objetiva. Por mais bela que possa ser, não anseia por estabelecer relacionamento, mas para avaliar, experimentar e descobrir suas próprias formas de ordem.

A mulher mais velha pode ter sido limitada ou reprimida na juventude, e pode reivindicar a Donzela, conscientemente, para libertar seu espírito e encontrar a sua direção. Muitas crises de meia-idade são forjadas por uma Donzela enclausurada e confinada, precipitada muito cedo num casamento convencional, sem oportunidade de explorar alternativas na sexualidade ou na carreira.

Mulheres em motocicletas, em laboratórios, estudando as florestas e matas, dançando num palco, discursando na plataforma política - elas são a Donzela.
 
A Lilith Mãe era Nutridora

Na primavera ela abre seu corpo-terra para gerar crescimento novo e brilhante. No verão, ela envolve com braços protetores a terra ardente. Na época da colheita ela espalha amplamente sua generosidade, e, à medida que o frio aumenta, ela aconchega os animais em suas tocas no inverno, puxando as sementes para o profundo interior do seu útero até que volte a época do reverdecimento.

 A Donzela pode inspirar nossos atos criativos, mas a Mãe está presente quando os produzimos.
 
E havia a Lilith Anciã, a Destruidora
Embora a Donzela seja procurada e a Mãe respeitada, a Anciã recebe pouca atenção. Mas é na Anciã que o poder feminino realmente se torna COMPLETO.

A Anciã é SÁBIA, observadora, tecelã, conselheira. Conhece os caminhos entre os mundos. Isso pode fazer dela uma personagem desconfortável, mas é um repositório de sabedoria feminina, do conhecimento acumulado da mulher que não menstrua mais, porém MANTÉM DENTRO DE SI O DEPÓSITO DO SEU PODER.
Na primeira, devemos confrontar as maneiras pelas quais nós somos reprimidos, buscando recuperar nossa dignidade. Na segunda, devemos integrar o desespero que vem de nossa rejeição, angústia, medo, desolação; e na terceira descobrimos o poder da transmutação e da cura dela decorrente, uma vez que ela corta nossas falsas retenções, desilusões e nos ajuda a encontrar nossa essência livre e selvagem.

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Fonte:
http://luanegra.do.sapo.pt/lilith.htm

sexta-feira, 11 de março de 2011

MATERNIDADE DIVINA – A GRANDE DEUSA-MÃE


MATERNIDADE DIVINA – A GRANDE DEUSA-MÃE

Sendo a Trindade Suprema constituída por três pessoas, uma delas deveria ser necessariamente a “mãe”, uma vez que as outras duas são o Pai e o Filho.

No cristianismo gnóstico primitivo, a terceira pessoa (o Espírito Santo) era identificada com Sofia (ou sabedoria ativa), uma representação feminina.

Com a exclusão do princípio feminino da Trindade, o cristianismo se tornou uma das poucas religiões que negligenciaram o aspecto feminino da Divindade, embora o culto a Maria tenha sido introduzido apressadamente no início da idade média, porque a falta deste princípio estava levando muitos dos fiéis a retornarem aos cultos “pagãos” de Ísis, Hathor, Demeter, Ceres, Freya, Athena, Afrodite, Cibele Ártemis, Epona, Kwan Yin, Kali, Saraswati, Lakskmi e Parvati.
O arquétipo da Grande Mãe Universal, geradora e sustentadora da vida e consoladora dos aflitos está profundamente arraigado no inconsciente coletivo da humanidade.

Esse arquétipo pode ser substituído na forma superficial por outra imagem simbólica, como ocorreu na substituição do culto de Ísis pelo culto de Maria, mas, em essência, trata-se do mesmo princípio da maternidade universal, a grande-mãe levada a seu nível mais arquetípico e universalizado.

Por trás da estonteante profusão de deusas das religiões pré cristãs, pode-se perceber a presença do mesmo arquétipo: a deusa-mãe, que produz e sustenta as formas de vida. A deusa consoladora e nutriz a quem os fiéis dirigiam suas preces e oferendas nos momentos de aflição e sofrimento.
O protestantismo nega veementemente a validade do culto à Maria, porque o protestantismo nada mais é do que o judaísmo reciclado e cristianizado, mantendo, porém as atitudes básicas e valores do judaísmo tradicional, uma religião essencialmente masculina.

Além desse aspecto, o protestantismo é uma religião pouco afeta ao simbolismo, sendo fundamentada numa interpretação mais literalizada das escrituras.

Esquecem-se, porém, de que o judaísmo atual é produto da codificação dos levitas jeovitas. No judaísmo primitivo, o Deus El tinha uma consorte, Áshera. Também na Cabala existem personificações femininas das Sephitotes (esferas de emanação), a exemplo de Binah e Netzah.
O próprio texto do Gênese começa com uma frase simbólica e enigmática: “No início, o espírito de YHWH pairava sobre a face das águas”.

Essa é uma frase de uma profundidade e riqueza simbólica extraordinária. Seria grotesca a interpretação literal de se imaginar que o texto se refere a um homenzarrão pairando sobre um vasto oceano de águas revoltas.

A metáfora significa que antes de a manifestação se iniciar, havia dois princípios: o princípio de Vida/Consciência (O Espírito de Deus) e o princípio original da matéria (as águas) que estavam em estado revolto como um grande mar de matéria-raiz primordial, que formava o oceano do caos na aurora da manifestação.

Um taoísta experimentado perceberia nesses dois princípios o Iang e o Ying primordiais, princípios cósmicos impessoais expressos através de simbolismo, que é a única maneira de aludir a algo tão distante da experiência humana e tão além da compreensão humana, especialmente de povos primitivos da idade do bronze.

Essas “águas primordiais” sobre as quais pairava o Espírito de YHWH são a verdadeira Virgem Maria, capaz de gerar o universo como o filho de sua união com o sopro de IHWH.
Esse é o mistério maior, representado em escala menor pela imaculada concepção de Maria.
Em escala cósmica, Maria (ou a Grande mãe) é o grande mar, o útero cósmico de onde nasce o universo. Não é por acaso que as palavras mar e maria, assim como mater e matéria têm a mesma origem.

Em sua visão impessoal da origem do mundo através da interação dos princípios masculinos (Iang) e feminino (Ying), os taoístas correm menos riscos do que os ocidentais de confundir símbolos com realidades.

Eles sabem que, na realidade, não existe a dualidade entre Pai e Mãe, ou entre o “Espírito de Deus” e a “face das águas”. Ambos são aspectos diferenciados da mesma unidade, são diferentes polaridades do grande Tao.

Assim, resolve-se o problema da maternidade divina, sem necessidade de se criar dualidades ou de supor que existe “um deus” e “uma deusa”.

Fazendo-se uma analogia com a luz do sol, pode-se notar que a Luz do sol em si mesma corresponde ao “Pai”. A mesma luz, atuando como o princípio criador e nutridor das formas de vida, corresponde à mãe. Nessa analogia, o “Pai” representa o princípio fertilizador da luz. A “mãe” representa o princípio criador e nutridor das formas de vida. E o “filho” representa os seres criados, que, por sua vez, repetem o mesmo ciclo em seu ambiente de vida.

Neste momento de virada de século (e também de ciclo), nota-se uma saturação e esgotamento da forma de religiosidade predominantemente masculina oferecida pelo cristianismo eclesiástico. A humanidade anseia por novas sínteses integradoras, ao mesmo tempo em que as velhas formas reagem e se solidificam através do fundamentalismo.

Todavia, nada pode conter o movimento inexorável dos ciclos, e uma nova religião que reintegre Deus-Pai, Deus-Mãe e Deus-Filho irá reaproximar a humanidade e promover a renovação do mundo.

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Matéria do site:
http://www.sociedadeteosofica.org.br/bhagavad/site/livro/cap38.htm

segunda-feira, 7 de março de 2011

Perspectivas da BRUXARIA Ancestral para 2012

Perspectivas da BRUXARIA Ancestral para 2012

Há três posicionamentos padrão diante das previsões para 2012: 1) considerar que nada acontecerá; 2) considerar que ocorrerá alguma catástrofe global; 3) considerar que nascerá uma nova consciência que mudará o mundo para melhor.

A BRUXARIA ancestral tem como princípio que tudo que existe no universo segue um fluxo que compõe parte do que chamamos de a Dança da Deusa, conceito a grosso modo semelhante ao princípio hermético do ciclo (tudo é cíclico). Sendo assim, aceitamos não só que a civilização como a conhecemos um dia sucumbirá para dar espaço a uma outra forma de civilização, mas também que acidentes de proporções globais que já aconteceram diversas vezes no planeta Terra, alterando sua face, e que são plenamente capazes de destruir as bases desta atual civilização, tornarão a acontecer um dia, e novamente e novamente.

Argumentar que o número de vítimas ou os prejuízos financeiros de catástrofes climáticas recentes só são tão grandes porque o mundo de hoje é muito mais rico e populoso que o de antigamente é infrutífero. O fato é que ao mesmo tempo em que o desequilíbrio climático aumenta, contingentes humanos cada vez maiores se encontram vulneráveis a enchentes, furacões, insolação, secas, incêndios, tsunamis e outros eventos naturais. O mesmo acontece com a tecnologia que nos permite ir muito além dos limites de produção anteriores ao século XX. Com o uso generalizado de eletricidade, componentes eletroeletrônicos, recursos computacionais e tecnologia de informação por satélite, nunca os equipamentos utilizados pelos humanos foram tão vulneráveis a fenômenos naturais e nunca o ser humano foi tão dependente de tecnologia quanto é hoje, tanto individual quanto globalmente. Ainda podemos constatar a fragilidade da economia globalizada, pela interdependência de mercados produtores e consumidores para manutenção do equilíbrio.

Por fim, para citar dois eventos catastróficos ainda não mencionados neste artigo, uma explosão de supervulcão, que cedo ou tarde ocorrerá, pois faz parte da história da Terra, ou a queda de fragmentos de cometa como a que recentemente ocorreu no planeta Júpiter, outro evento nada raro quando contabilizado em eras geológicas, onde quer que ocorressem na face do planeta seriam o bastante para levantar à atmosfera uma nuvem de aerossóis e poeira que destruiria todas as safras a céu aberto do mundo por meses. O ser humano poderia sobreviver a isso, mas a civilização humana não.

Ora, temos o desequilíbrio ambiental como um fato, o que por si só é preocupante, mas aliado a isso temos a civilização dependente de tecnologias como os computadores, energia elétrica e eletroeletrônicos em geral, que podem ser mundialmente atingidas por um vento solar como o de setembro de 1859, capaz de destruir quase totalmente a capacidade produtiva dos países industrializados quiçá até os registros bancários!
E numa noite de céu iluminado por luzes feéricas todos contarão com pouco mais que suas moradias, seus braços e pernas para subsistir. Quantos conseguirão? Quantos entrarão em pânico e se tornarão violentos? Em 2012 acontecerá algo assim?

Isso ninguém pode garantir, mas todos percebemos que estamos nos aproximando em velocidade exponencialmente crescente de uma situação limite, tanto de sustentabilidade climática/ambiental quanto de possibilidades de produção e consumo. Refiro-me ao fato de que as projeções de crescimento econômico parecem ignorar que, ao contrário do que seria de se esperar, o ganho de produtividade propiciado pela tecnologia não reverte em liberação da mão-de-obra para tarefas filosoficamente mais elevadas ou gratificantes, mas em mera acumulação de capital que por sua vez torna necessário um novo aumento da produção. E a roldão da tecnologia o ser humano é forçado a produzir cada vez mais, ou seja, a comprimir em sua jornada de trabalho uma produção cada vez maior. Na outra ponta, o lançamento de novos produtos e a atualização tecnológica dos já existentes incrementa a necessidade de consumo. É hora de lembrar que todo império que não conhece limites acaba ruindo em função de seu próprio agigantamento.

Em suma, nos parece haver diversas forças e eventos que se combinam para dar um término a esta era de materialismo. O surgimento da física quântica, o resgate do PAGANISMO , a difusão do acesso às terapias alternativas são alguns dos elementos que fermentam o surgimento de uma nova civilização; o desequilíbrio climático, o esgotamento da capacidade produtiva da mão-de-obra e a incapacidade dos governos de desempenhar seu papel, fato evidenciado na terceirização dos serviços de saúde, manutenção de estradas, ensino e segurança privada, dentre outros, são catalizadores do esfacelamento desta civilização.

Alteração radical de condições ambientais em diversas partes do mundo, mega tsunamis em áreas densamente povoadas, explosão de supervulcão, queda de algum grande meteorito, mega vento solar atingindo a Terra, ninguém contesta que um destes eventos ocorrerá. E basta fazer um pequeno esforço de imaginação para concluir que a civilização atual não seria capaz sobreviver a qualquer deles.

Por fim, podemos inverter um pouco a lógica e nos perguntar: se já vivemos uma crise ambiental global, se a civilização atual está ruindo sob a ditadura do capital (damos nossas vidas pelo dinheiro), se novas formas de perceber o universo estão se alastrando tanto entre os religiosos quanto entre os cientistas, por que dezembro de 2012 não seria uma data aceitável para uma virada?

Como se vê, não se trata nem mesmo de uma profecia, afinal ela não prevê desastres. Se o ser humano chegou a propor que o fim do Calendário Maia é o fim do mundo é porque ele percebe que existe muita coisa fora do lugar, que a civilização se transformou num castelo de cartas, e que o menor vento que o atinja o fará em mil pedaços. A segunda e a terceira propostas são conciliáveis: ocorrerá alguma catástrofe global e em meio à crise que gerará muito sofrimento, uma nova consciência começará a se espalhar, encerrando a grande era do materialismo. A primeira proposta é um resguardo: pode até não acontecer em 2012, mas é bem razoável inferir que não iremos muito além.


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Fonte:
http://www.oldreligion.com.br/

sábado, 5 de março de 2011

Evolução

Muito se fala, quando o assunto é Wicca ou Paganismo, sobre a Deusa e o que ela representa. Como sempre, e ainda bem, muitas são as explicações possíveis - é a força criadora por trás de toda a criação; é a guia que conduz os destinos do universo e da humanidade; é a natureza que nos permite viver. Mas o que é, afinal, a Deusa?

Basicamente, tudo isso e muito mais. A Deusa, certamente, é a responsável por todas as formas de vida existentes em nossa e outras dimensões. Mas não se limita a isso. Quando um Pagão Celta fala da Deusa, ele deve ter ciência de que está em contato com uma poderosa força de criação e vida, mas toda criação pressupõe destruição, assim como toda vida pressupõe uma morte. O conceito de bem e mal é praticamente desconhecido à Deusa - basta que analisemos os processos naturais que fazem parte da Natureza. Querem um exemplo? Ao assistirmos um desses magníficos documentários sobre a vida selvagem, vemos retratada a vida, por exemplo, das gazelas. Somos expostos à sofrida rotina desses animais que devem migrar quilômetros pelas savanas, em busca de água e alimento, enfrentando perigosas travessias de rios, desfiladeiros abruptos e temíveis predadores. Um desses predadores é o leão, que em determinada parte do documentário surge caçando uma gazela mais velha e, portanto já menos ágil. é um combate desigual, envolvendo normalmente um grupo de leoas que cercam a gazela e sobre ela se lançam com sua ferocidade conhecida, por vezes destroçando a pobre presa antes mesmo que esta esteja inconsciente. Ficamos então com pena da gazela, e com uma certa raiva dos leões. Na semana seguinte, o mesmo canal apresenta outro episódio da série de documentários, desta vez enfocando a vida de um grupo de leões. Ficamos fascinados com a organização do grupo, o poder de liderança do macho dominante, a estratégia de caça precisa das fêmeas, e acompanhamos o drama de uma mamãe leoa sem alimento para dar a seus dois jovens filhotes. Há já alguns dias que o bando não come, e alguns membros do grupo já apresentam sintomas de desnutrição. A situação é preocupante quando surge um bando de gazelas estúpidas, que atravessam o caminho de nossos amigos leões. Segue-se então a cena da caça e nos maravilhamos com a capacidade de superação dos felinos que, enfim, acabam por conseguir o alimento de que tanto precisavam. Vemos o pequeno filhote deitar-se ao lado de sua mãe, com a fome saciada, e sua existência garantida, e respiramos aliviados.

Como somos incoerentes, em nossa busca por coerência! Nós, humanos "racionais," determinamos que a morte é um processo negativo, uma ofensa à vida. Mas a vida é a própria morte, e vice-versa. Não há bem ou mal na natureza. Não há maldade no ato dos leões. O "vilão" do primeiro documentário é o "herói" do segundo, pois ambos os protagonistas respeitam a natureza e nela estão inseridos. A morte é apenas um estágio no eterno espiralar dos ciclos de vida, morte e renascimento. Todas as criaturas devem fenecer. Nada é eterno, a não ser a própria Deusa.

As Tríades dos Druidas de Gales ensinam que todo ser deve buscar a evolução rumo à perfeição. Toda bondade advém da Deusa, e portanto nossa busca pela perfeição nos leva ao encontro da Deusa. Admitamos que um ser altamente evoluído esteja a um passo do conhecimento total, da sabedoria absoluta que caracteriza a Deusa. Ao cumprir esse passo que o separa da Divindade Absoluta, o que ocorre? Esse ser iguala-se em conhecimento e sabedoria à Deusa. Teríamos assim dois seres absolutamente perfeitos, certo? Errado. O momento em que um ser atinge um tamanho estado de evolução, comparado apenas ao da Deusa Mãe, ao invés de assinalar o surgimento de outro Ser Supremo, outra Deusa, por assim dizer, indica que este ser voltou ao ventre da Deusa. Isto porque ela, a Força Criadora, é única em seu conhecimento e sabedoria. Sendo perfeita em todos os níveis, ela está por todo o universo, em todas as criaturas. Afinal, ela é o próprio universo. E, uma vez que a Deusa está em tudo e em todos, nenhum outro ser pode também, concomitantemente, estar em tudo e em todos. Um ser teoricamente evoluído ao ponto de poder se equiparar à Deusa em sabedoria e poder de criação acaba por se fundir novamente à força que o originou: une-se novamente à própria Deusa, para poder retomar seu caminho evolutivo, numa infinita espiral.

A evolução, portanto, é o objetivo de nossa busca contínua pela perfeição. Devemos, contudo, ter algo muito claro em nossa mente: JAMAIS, em momento algum da existência de qualquer ser, haverá um momento em que possamos dizer: "agora eu já sei tudo, agora encontrei a verdade, agora sou perfeito." A sucessão de vidas que caracteriza nossa existência é um eterno e inesgotável aprendizado.

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Retirado do site:
http://www.circulosagrado.com/
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sexta-feira, 4 de março de 2011

CERRIDWEN



A deusa Cerridwen era a grande Anciã de Gales. Era associada à Lua, ao caldeirão mágico e aos grãos. Todos os verdadeiros bardos celtas dizem ter dela nascido; de fato, os bardos galeses, como um todo, se auto-denominavam Cerddorion (os filhos de Cerridwen).


Diz-se que beber de seu caldeirão mágico confere a maior inspiração e talento a poetas e músicos. A jornada ao caldeirão era parte da iniciação de um bardo, uma jornada perigosa, como pode ser visto na lenda de Taliesin.

A Lenda de Taliesin

Taliesin inicia sua vida como Gwion Bach. Ainda jovem, ele vagava pelo norte de Gales quando subitamente se viu no fundo do Lago Bala, onde viviam o gigante Tegid e sua esposa Cerridwen.

A Deusa possuía dois filhos, um garoto e uma garota. A garota era muito bela, mas o garoto era horrível. Então Cerridwen estava preparando em seu caldeirão uma poção para que seu filho fosse muito sábio. Ela pediu a Gwion que a ajudasse mexendo o caldeirão que continha a poção.

Ele mexeu durante um ano e um dia até que só restassem três gotas, que pularam para o seu dedo. Instintivamente, ele levou o dedo queimado pelas gotas ferventes à boca e percebeu na hora todo o poder terrível de Cerridwen. Ele então fugiu do lago em terror.

Furiosa, Cerridwen saiu em sua busca. Tentando escapar da Deusa, Gwion se transformou várias vezes, assumindo diversas formas. Cerridwen o seguia, também ela se metamorfoseando, até finalmente devorá-lo quando este assumira a forma de um grão de milho. Nove meses depois ela deu à luz um menino, o qual lançou ao mar num barquinho.

Elphin, filho de um rico proprietário de terras, salvou o bebê e lhe deu o nome de Taliesin (semblante radiante). A criança reteve todo o seu conhecimento e sabedoria adquiridos pela poção e cresceu para tornar-se um talentoso e importante bardo.

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Créditos:

Imagem:
http://www.epilogue.net/cgi/database/art/view.pl?id=79359

Texto:
http://bruxaria.net/2004/07/01/cerridwen/

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Olá,gente.

Neste post vou falar sobre uma comparação que eu achei meio esquisita - mas que,sinto que poderia dizer muito.

Primeiro, há uns dias atrás,eu tava pensando sobre os deuses hindus...e via imagens deles e talz.

Vendo e comparando imagens, tô começando a achar q as divindades hindus,tipo Brahma começaram como femininas. Pois,se for ver,os deuses hindus são todos afeminados,até as divindades masculinas. Com rostos,cabelos,gestos,jóias.... Como algo que se identifica como feminino ,é masculino?

Vemos,a montagem que fiz:



Na imagem,os deuses : Hécate (grega),Brigith (celta)e Brahma (hindu).

Eu achei extremamente semelhante as imagens desses 3 - mas claro que até tem mais deuses parecidos - mas esses seria bom citar,já que são os mais populares.

Mas bem, uma coisa que fiquei intrigada também,é que... acho que a cultura do mundo oriental e europa ocidental se originou (láá nos primórdios) por aí entre a Índia e Paquistão(se não me engano) - e não sou a única a achar isso! Não lembro o nome do antropólogo que acredita nisso tbm,mas quando eu achar,vou postar aqui.

Acho então,que os celtas,gregos e etc... todos eram povos q se originaram na cultura primitiva da Índia.


Futuramente pesquiso mais sobre isso. Mas o problema nem é pesquisar,é achar.. Muitos sites nem contam sobre os "primórdios da Índia.
Mas qnd eu achar,com certeza postarei aqui!

=))

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

As divindades femininas: No princípio, eram as deusas

Nos quatro cantos do mundo, as primeiras divindades eram mulheres: Pótnia, Astarte, Ísis, Amaterazu, Nu Gua. Nas antigas sociedades, elas representavam o começo e o fim de tudo.Hoje, ajudam a entender o passado remoto dos homens.

Em Çatal Huyuk, na Turquia, a estatueta de uma mulher sentada num trono e ladeada por duas panteras, em cujas cabeças ela coloca as mãos, sugere ao mesmo tempo a imagem da mãe e da senhora da natureza. Suas formas generosas — quadris largos e seios grandes— reforçam ainda mais essa idéia. O nome da figura feminina é Pótnia, a deusa de Çatal Huyuk, a mais antiga cidade que se conhece do período Neolítico, cerca de 10 mil anos atrás. De Pótnia nasceram outras divindades femininas também adoradas pelos homens pré- históricos. Sua estatueta, esculpida por volta de 6500 a.C., foi uma das muitas encontradas na Europa e no Oriente Médio, algumas mais antigas, do Paleolítico Superior (de 50 mil a 10 mil anos atrás).

Essas descobertas levaram historiadores e arqueólogos a sugerir que, bem antes de venerar deuses masculinos, os antepassados do homem teriam adorado as deusas, cujo reinado chegou até a Idade do Bronze, há cerca de 5 mil anos. Não se sabe a rigor o exato significado daquelas estatuetas, até porque pouco ou quase nada se conhece dos costumes dos homens pré-históricos. Mas não resta dúvida de que por um bom tempo as deusas reinaram sozinhas, deixando os poderes masculinos à sombra. Em seu livro Um é o outro, a filósofa e professora francesa Elisabeth Badinter tenta explicar a supremacia feminina a partir do que se supõe teriam sido as relações entre homens e mulheres naquelas épocas distantes.
A idéia é que o homem do Neolítico—ao contrário dos seus antecessores do Paleolítico, que eram caçadores, e dos seus descendentes da Idade do Bronze, guerreiros—dedicava-se à criação de rebanhos e à agricultura. Ou seja, já não era necessário arriscar a vida para sobreviver. Nesses tempos relativamente pacíficos, em que a força bruta não contava tanto como fator de prestígio e as diferenças sociais entre os sexos se estreitavam, é bem possível que deusas—e não deuses—tivessem encarnado as principais virtudes da cultura neolítica.

Entre as centenas de estatuetas encontradas, algumas têm em comum os seios fartos e os quadris volumosos como Pótnia. Talvez a mais famosa seja a Vênus de Willendorf, encontrada às margens do rio Danúbio, na Europa Central. Nela, os seios, as nádegas e o ventre formam uma massa compacta, de onde emergem a cabeça e as pernas — na verdade, pequenos tocos. Igualmente reveladora é a Vênus de Lespugne, descoberta na França: embora mais estilizada, guarda as mesmas características de sua irmã de Willendorf.
Mas, das esculturas pré- históricas encontradas até hoje, são raras as que apresentam os traços femininos tão exagerados — o que dá margem a um debate sobre o que significava afinal a figura feminina (devidamente divinizada) nos primórdios das sociedades humanas. Os historiadores tendem a achar que os primeiros homens a viver em grupos organizados davam mais importância à sexualidade feminina do que à fertilidade, embora não seja nada fácil separar uma coisa da outra. No entanto. a imagem à qual acabaram associadas foi a da maternidade. Há quem não concorde. "Traduzir o culto dos ancestrais às deusas como simples exaltação à fertilidade é simplificar demais", comenta a historiadora e antropóloga Norma Telles, da PUC de São Paulo, que estuda mitologia praticamente desde criança. "Na realidade, a deusa não é aquela que só gera. Ela é também guerreira, doadora das artes da civilização, criadora do céu, do tecido e da cerâmica, entre muitas outras coisas."

De fato, em muitos mitos, a deusa aparece como quem dá o grão aos homens, e não apenas no sentido literal de nutrição. Assim, por exemplo, Deméter, venerada pelos gregos como a deusa da colheita, ajudava a cultivar a terra — arar, semear, colher e transformar os grãos em farinha e depois em pão. Deméter ensinava ainda os homens a atrelar as animais e a se organizar. Os gregos explicaram a origem do mundo com outro mito feminino: o da deusa Gaia. Doadora da sabedoria aos homens, ela limitou o Caos—o espaço infinito—e criou um ser igual a ela própria: Urano, o céu estrelado.
Pouco depois, Eros, símbolo do amor universal, fez com que Gaia e Urano se unissem. Desse casamento nasceram muitos filhos e, assim, a Terra foi povoada. A crença de que o Universo foi criado por uma divindade feminina está presente em quase toda parte.
Ísis, a mais antiga deusa do Egito, tinha dado a luz ao Sol. Na Índia, Aditi era a deusa-mãe de tudo que existe no céu. Na Mesopotâmia, Astarte, uma das mais cultuadas deusas do Oriente Médio, era a verdadeira soberana do mundo, que eliminava o velho e gerava o novo. Essa idéia aparece com clareza nas efígies datadas de 2 300 a.C., que mostram Astarte sentada sobre um cadáver. Também para os chineses foi uma deusa—Nu Gua — quem criou a humanidade. Seu culto apareceu durante o período da dinastia Han (202 a.C.-220 d.C.). Representada com cabeça de mulher e corpo de serpente, a venerável Nu Gua encarnava a ordem e a tranqüilidade.

Os chineses dizem que, cavando barro do chão, ela moldou uma figura que, para sua surpresa, ganhou vida e movimento próprio. Entusiasmada, a deusa continuou a moldar figuras, mas a natureza mortal de suas criaturas a obrigava a repetir eternamente o trabalho. Por isso, Nu Gua decidiu que os seres deviam se acasalar para se perpetuarem—daí também ela ser considerada pelos antigos chineses a deusa do casamento. Do outro lado do mundo, na América pré - colombiana, os astecas tinham em Tlauteutli sua deusa da criação. Para eles, o Universo fora feito de seu corpo. Os maias tinham igualmente sua deusa-mãe. Era Ix Chel. De sua união com o deus Itzamná nasceram os outros deuses e os homens.
Com o passar do tempo, deuses e homens passaram a dividir com as deusas o espaço no Panteão, o lugar reservado às divindades. Para Elisabeth Badinter, isso acontece quando a noção de casal vai deitando raízes nas sociedades. Pouco a pouco, da Europa Ocidental ao Oriente, "reconhece-se que é preciso ser dois para procriar e produzir", escreve ela. Mas o culto à deusa - mãe ainda não é substituído pelo do deus - pai. O casal divino passa a ser venerado em conjunto. As deusas só serão destronadas com o advento das religiões monoteístas, que admitem um só deus, masculino. Com a difusão do cristianismo, as antigas deusas são banidas do imaginário popular.

No Ocidente, algumas acabaram associadas à Virgem Maria, mãe do Deus dos cristãos, outras se transformaram em santas. Mas outras ou foram excluídas da história ou acusadas pelos padres de demônios e prostitutas. As deusas das culturas indo-européias tinham em comum o poder de criar, preservar e destruir—davam a vida e recebiam de volta o que se desfazia. Esse aspecto destrutivo das divindades femininas foi o mais atacado pelos inimigos do politeísmo. A suméria Astarte, por exemplo, não escaparia à ira nem dos profetas bíblicos nem dos primeiros cristãos: para uns e outros, ela era a encarnação do diabo.
No império babilônico, Astarte foi venerada sob o nome de Ishtar, que quer dizer estrela. Nos escritos babilônicos, ela é a luz do mundo, a que abre o ventre, faz justiça, dá a força e perdoa. A Bíblia, porém, a descreveria como uma acabada prostituta. A importância dada ao lado violento, destrutivo, talvez explique por que a deusa hindu Kali Ma aparece no filme de Steven Spielberg, O templo da perdição, como a encarnação da violência. Ela é a sanguinária figura em nome da qual se matam e torturam adultos e se escravizam crianças.

No entanto, para os hindus, mais especialmente para os tantras — adeptos de uma derivação do hinduísmo —, Kali é a deusa da transformação e nesse sentido mais filosófico é que ela é destruidora, da mesma forma como a passagem do tempo destrói. Representada como uma mulher negra com quatro braços e uma serpente na cintura, pode aparecer também com um colar de crânios no colo e uma cabeça em cada mão.
Em seus templos, espalhados por toda a Índia, realizavam-se sacrifícios de búfalos e cabras. "Para os orientais, Kali é a desintegração contida na vida, visão essa que nós ocidentais não temos", interpreta a antropóloga Norma Telles. Se Kali foi vista como deusa sanguinária, outras divindades compensavam tanta violência. Sarasvati, a deusa dos rios, era para os hindus a inventora de todas as artes da civilização, como o calendário, a Matemática, o alfabeto original e até os Vedas, o texto sagrado do hinduísmo.
Também na América pré-colombiana, sobretudo entre os astecas, o culto às deusas e deuses incluía muitas vezes sacrifícios humanos. A deusa Tlauteutli é um bom exemplo. Um dia, os deuses descobriram que ela ficaria estéril, a menos que fosse alimentada de corações humanos. Na verdade, os astecas tinham uma visão apocalíptica do mundo: se não alimentassem a deusa, a Terra se acabaria.

Mas, à medida que começava a crescer o culto à deusa da maternidade, Tonantzin, diminuía o interesse dos astecas pelos deuses aos quais se faziam sacrifícios sangrentos. Mais tarde, com a chegada dos conquistadores espanhóis, Tonantzin foi identificada com a Virgem Maria. Isso acabaria acontecendo também com a deusa Ísis. Cultuada no Egito e no mundo greco - romano, ela representava a energia transformadora. Casada com o deus Osíris, morto pelo próprio irmão, Ísis não sossegou enquanto não lhe restituiu a vida. A lenda conta que as enchentes do Nilo eram causadas pelas lágrimas da deusa que pranteava a morte do amado. Por isso, as festas em sua homenagem coincidiam sempre com a época das cheias. É evidente que, ao festejá-la, os egípcios comemoravam a generosa fertilidade do rio Nilo. Nos primeiros séculos cristãos, Ísis passou a ser identificada com Maria.

Já a deusa Brighid, cultuada pelos celtas, ancestrais dos irlandeses, foi transformada pelo cristianismo em Santa Brigida. A veneração daquele povo por Brighid era tanta que ela era chamada simplesmente "a deusa". Dona das palavras e da poesia, era também a padroeira da cura, do artesanato e do conhecimento. As festas em sua homenagem se davam no dia 1º de fevereiro, antecipando a chegada da primavera. Na história cristã, a santa nasceu no pôr-do-sol, nem dentro nem fora de uma casa, e foi alimentada por uma vaca branca com manchas vermelhas. Na tradição irlandesa, a vaca era considerada sobrenatural.

Antes mesmo da chegada das religiões monoteístas, os mitos dizem que o convívio entre deuses e deusas começou a se tornar difícil e a igualdade dos poderes divinos começava a ficar abalada. Assim, por exemplo, Amaterazu, a deusa japonesa do Sol, de quem descendiam os imperadores, não se dava muito bem com o deus da tempestade. Conta a lenda que certo dia ele foi visitar os domínios da deusa e acabou por destruir seus campos de arroz. Furiosa, Amaterazu resolveu vingar-se trancando-se numa caverna — o que deixou o mundo às escuras. Depois de um tempo, como ela não saísse da caverna, uma multidão de deuses e deuses menores decidiu armar uma estratégia para convencê-la a mudar de idéia. Assim, colocaram diante da caverna um espelho que refletia a imagem do deus da tempestade, como se ele estivesse enforcado numa árvore, e começaram a dançar.

Atraída pela música, a deusa decidiu sair para ver o que acontecia. Ao deparar com a imagem no espelho ficou feliz e voltou ao mundo. Com isso, tudo se normalizou e os dias continuaram a suceder às noites. Outro exemplo dos conflitos entre as divindades é o caso da deusa grega Deméter e seu marido Hades, o deus do mundo dos mortos. Eles começaram a brigar pela guarda da filha Perséfone e a questão só foi resolvida com a mediação de Zeus, o deus supremo do Olimpo. Salomonicamente, ele determinou que a menina ficasse com cada um seis meses por ano. Das deusas veneradas no mundo antigo, não houve tantas nem tão famosas como as da mitologia greco - romana. Afrodite (Vênus, em Roma) talvez fosse a mais popular de todas, por encarnar o amor e as formas belas da natureza.

Ártemis (Diana) era a caçadora solitária, senhora dos bosques e dos animais. Seus lugares preferidos eram sempre aqueles onde o homem ainda não tinha chegado. Atena (Minerva) protegia a cidade, as casas e as famílias. O predomínio que as divindades femininas exerceram ao longo do tempo levou alguns pesquisadores do século XIX a supor que na pré-história as mulheres detiveram alguma forma de autoridade política. Não há registros arqueológicos que confirmem isso — hoje os especialistas não admitem que tenha existido alguma sociedade cujo controle estivesse com as mulheres. Mas também é certo que nos tempos pré-históricos, quando era outra a divisão social do trabalho, as mulheres tinham um papel preponderante na luta pela sobrevivência do grupo. É impossível saber com exatidão quando e por que deixou de ser assim. De uma coisa, porém, não se duvida: foram os homens quem primeiro traçaram a mitologia das deusas.



A primeira mulher de Adão
Segundo uma antiga lenda, a primeira companheira de Adão não foi Eva, mas uma deusa chamada Lilith—"monstro da noite", para os antigos hebreus—que brigou com Deus e por isso foi transformada em demônio. Na verdade, o castigo maior que Ihe impuseram os sacerdotes foi excluí-la dos relatos bíblicos da criação do mundo. Lilith, versão hebraica de uma divindade babilônica, sinônimo de "face escura da Lua", não se dava bem com Adão. Certo dia, cansada de desavenças, Lilith abandonou o marido e foi para o mar Vermelho, onde passou a viver entre demônios, com quem teve vários filhos.

Inconformado, Adão foi pedir a interferência de Deus. Este determinou então que Lilith voltasse imediatamente para casa. Mas ela recusou-se e foi condenada a devorar todos os seus filhos. Não bastasse, passou a ser considerada um demônio igual a outras deuses do mundo das trevas. Por tudo isso, no folclore judaico, cada vez que morria uma criança, dizia-se que Lilith a tinha levado. A lenda de Lilith perdurou entre os judeus pelo menos até o século VII.

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